sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Imperativo
A abreviação de meu nome carrega uma ordem estrangeira de morte, como se eu levasse uma estranha criança encaminhada para o falecimento em meu colo, tendo que nomeá-la para faze-la viver. “Dai um nome a ela”, diriam. “Die in the life”, esconderiam. A criança envolta na tradução do corpo caído dentro do próprio corpo. O sussurro da vida se espalhando no segredo da palavra, embrião forasteiro, habitante do sentido de outros lugares. Meu espaço ermo a ser guiado pela obrigação da vida, sendo, assim, conquistado pelos novos povos, pelas nações vizinhas. Minha semântica invadida pela correnteza dos corpúsculos interpretativos do verbo. As batalhas mais árduas ardendo nas estranhas da minha garganta que profere o medo da nomeação. “Dai um tempo a ela”, pediriam. “Die in the clock”, saberiam. A escala dos segundos correndo na definição da infância em frente ao fim. O golpe das horas parando na abstração da adolescência atrás do começo. O que se dá não se mata, então que seja dado o encurtamento do convite nominal à criança... “Dai!”, ordenariam. E assim foi feito.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
DIE THROUGH THE LIFE
Deram-lhe um nome.
Estava no meio da placenta
E dançava, entre o escuro e o sol,
Com o cordão umbilical em seus braços,
Como uma bandeira.
Ao redor, os pássaros na praia cantam em uma só voz seu nome, que era um verbo,
E brincam no céu feito crianças na areia.
Caminhava feminina, erguida,
Pelo útero de seu país, pintando em
Suas paredes abstrações que se desfaziam a cada mês,
Sob o fado assassino e renovador dos mênstruos
E conhecia por nome cada mulher adormecida em seu ovário,
Sua cidade de metades,
Onde cada ser esperava, ansioso e amorfo,
O toque azulado e químico que o fizesse criar o próprio corpo,
e definir seu sexo, e voz, e vida.
E ela examinava, olhos nos olhos,
A multidão em seu ventre,
e de suas bocas saía uma só palavra: dai.
Contudo, seu nome era o oposto
Do que desejavam, e era justamente o que diziam,
Pois, em sua ânsia de vida,
Aquele exército de incompletos
Clamava para si o privilégio da morte,
De ter existido, de ter seu próprio exército.
Dar de morrer é o dom
Absoluto das fêmeas, e ela
Fora batizada com ele,
Em sua testa fora derramado
Todo o sangue de toda descamação,
E todo hormônio, em ondas,
E todo homem e toda mulher
Que poderiam ter ganhado a liberdade
Em suas águas, bebido de seu umbigo,
Atravessado o limite de suas carnes
Para atingir o resto do universo.
Dar de morrer, dar de respirar,
Dar de gritar, de ter células,
De ter leite e braços e olhos,
Que poço absurdo era seu nome,
Dono de toda a dor
E de tudo que é vivo.
Era a porta do desconhecido
Para o que desconheço, era
O mistério surgindo no mistério
Em seu umbigo, era a morte,
Era a morte, que é a vida, é o verbo.
“…So, the name was written, and sung,
Until the name turned life, and mans,
Who had their names, and have walked, and died…’
O encaminhamento imperativo das palavras que conduzes, Dai!, segue a morte que te nasceu e te fez assim: viva em ondas mortas, porque elas não aguentam tua grandiosidade metafórica.
Dai um nome a ela! Tal vez nem tanto de morte. Se for, também, necessário deixar teu corpo para que fosse, nem sempre saberiam a própria membrana que se lembrariam do nome. Dariam qualquer um. Se o intento da confusão da linguagem que se quis clarear é feito, pois quem sabe quem quis saborear a pequena palavra de um mero acaso desesperado tentando acertar pleonasticamente o errado?
Em hora de morte, uma nascença. Em hora nem enganação, viva. Morte, ou vida, viva a nascença! E assim se faria. Daí, então, vive.
Te dou! Tudo!
Dai a mim também o que eu não quero receber. Me cutuca, e dá o brilho dessa inconstância.
Dai, dai dai. E sempre recebei.
Ei poeta psicóloga da madrugada, tens dormido cedo, é?!
a frase
o enredo
o verso, sem dúvida, soretudo o verso...
bom ver suas imagens
bjs!!
Postar um comentário